terça-feira, 16 de junho de 2020

Quatro competidores com deficiência física conectados pelo cubo mágico


  Gênio, prodígio, nerd, superdotado! Estes eram os adjetivos usados para tratar os meninos que resolviam o cubo mágico. Aleijado, incapacitado, inválido, coitado! Estes são termos preconceituosos que ainda são usados para tratar pessoas com deficiência. Resolver o cubo mágico era considerado impossível para qualquer ser humano que não tivesse altas habilidades. Atualmente, há competidores com deficiência resolvendo estes quebra-cabeças em campeonatos. O que está acontecendo? O incapaz agora é superdotado?
O cubo mágico conectou quatro adolescentes diagnosticados com alguma deficiência física. Gustavo nasceu sem os braços. Luiz Gustavo não enxerga nada. Natan e Guilherme tem os movimentos limitados pela paralisia cerebral. Eles se encontraram no Campeonato Brasileiro de Cubo Mágico On Line, realizado em maio de 2020. Mostraram suas habilidades na categoria para Pessoas com Deficiência usando o cubo tradicional conhecido como 3x3x3.

Guilherme Diaz Montejane, 13 anos, São Paulo/SP. Desde criança, adora atividades que para ele são radicais como jet ski, skate e corrida. Também curte esportes da mente. Sabe resolver seis cubos mágicos e quebra-cabeças tridimensionais usados em campeonatos oficiais, como 2x2x2, 3x3x3, 4x4x4, 5x5x5, pyraminx e skewb. Demorou 20 minutos e trinta e oito segundos para resolver o cubo mágico tradicional no Campeonato Brasileiro on Line. Criou o canal Vem pro mundo azul no You Tube onde mostra um pouco como supera as dificuldades encontradas por causa da paralisia cerebral. Uma das suas falas revela que ele pensa que a vida não seria legal sem desafios.
O filme “A procura da Felicidade” relata a história de Chris Gardner, representado por Will Smith. É a luta de um pai que busca dar o melhor para o filho. Sua persistência é recompensada quando é escolhido para trabalhar numa prestigiada firma de corretagem, após impressionar um dos sócios resolvendo o cubo mágico. Motivado pelo filme, Guilherme começou a assistir os tutoriais de resolução dos cubistas Rafael Cinoto e Renan Cerpe.
A mãe Rafaela Montejane Diaz engravidou aos 16 anos e teve um parto complicado. Percebeu que o filho ia crescendo e não evoluía de acordo com a faixa etária adequada. Descobriu quando ele tinha seis meses e não conseguia sentar que o diagnóstico era de paralisia cerebral. Precisou passar pelo processo de aceitação e insegurança e buscar caminhos para ajudar o filho. O constante incentivo, a necessidade de persistir e a fé em Deus foram pilares fundamentais. “Era importante ir para o mundo, jamais deixar ele em casa, procurar a evolução e foi daí que a gente começou esta transição. Buscamos sempre proporcionar novas sensações. As outras pessoas devem parar de olhar eles como coitadinhos porque não são”, comentou a mãe.
Guilherme já usou as mãos do pai, Fernando Montejane, para resolver o Mirror Block, um cubo curioso e   que invés de cores tem peças com formatos retangulares e tamanhos diferentes. O adolescente sabe como resolver, mas os movimentos mecânicos são complicados para executar, então, tem o apoio que lhe garante o sucesso.
A Banda Fortunia gravou um clipe com a música “Não será o fim”. Guilherme e Rafaela participaram representando a superação humana diante das dificuldades.  Sua história ajuda a atingir o objetivo do projeto: "Que esta obra possa chegar nas vidas e nos corações dos necessitados. E nos ouvidos dos adormecidos."

Luiz Gustavo Medeiros Soares, 15 anos, Assaí/PR. Um adolescente que toca violão, anda de bicicleta, pratica judô e atletismo. A mãe, Valdineia dos Santos Medeiros, costuma dizer que ele enxerga com os olhos de Deus desde o dia que viu ele acertando a bola na cesta de basquete. Foi assim, que sendo cego total resolveu o cubo mágico em um minuto e trinta e dois segundos. O embaralhamento exigido pela organização foi feito pela mãe que não sabe resolver, mas aprendeu a aplicar o algoritmo.
Para conquistar este resultado contou com diversas ajudas humanas. Os professores do Colégio Barão do Rio Branco em parceria com Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFTPR – Campus Cornélio Procópio) realizaram um projeto para ensinar os alunos. Todos os colegas da turma sabiam montar e ele não queria ser o único a não aprender. A prima Luana Amaral Ferreira foi importante para concluir todas as etapas de aprendizagem. Ela aproveitou o tempo de uma viagem de ônibus que durou cinco horas e o fim de semana juntos para ensinar os algoritmos. “Eu mostrei os primeiros movimentos e dei a ele um cubo adaptado com lantejoulas de formatos diferentes representando as cores. Adaptamos um pyraminx e um 2x2x2, que vamos entregar quando a pandemia acabar. Estamos planejando produzir tutorias com áudios que possam auxiliar interessados com deficiência visual”, comentou professor Armando Paulo da Silva, doutor em Ciência para a Educação.
Luiz nasceu com a deficiência devido a uma má formação congênita rara. A mãe descobriu quando ele tinha aproximadamente oito meses depois de observar que o olhar dele não seguia o movimento das pessoas. A gravidez foi complicada, ela teve pré-eclâmpsia. Os médicos suspeitaram que com a mãe tem o tipo sanguíneo A positivo e do pai é A negativo, o organismo tentou rejeitar o embrião. “Um neurologista descobriu que ele não enxerga por meio de uma tomografia e uma ressonância. Os oftalmologistas não sabiam explicar. Somente depois de 12 anos, a endocrologista que o orienta no tratamento para o crescimento, concluiu que por falta de hormônio o nervo ótico não se formou”, informou a mãe.


Natan Cardoso, 17 anos, São Paulo/SP. Nasceu prematuro pesando 610 gramas e medindo 28 centímetros. A paralisia cerebral atingiu seu corpo do lado esquerdo.
Aprendeu com o irmão Mateus Cardoso da Silva que participava de campeonatos e buscava melhorava os tempos. No começo ele usava a mão direita para fazer os movimentos e a esquerda para dar apoio. Depois aprendeu fórmulas para fazer apenas com uma mão.
Informado sobre o Campeonato Brasileiro on Line, ficou interessado e se inscreveu. O seu tempo foi uma média de 41 segundos e noventa e nove centésimos. 


Gustavo Laurentino Galvani, 13 anos, Orleans/SC. É um adolescente que nasceu sem os braços e por isso aprendeu a abraçar o mundo. Uma deficiência chamada amelia, caracterizada pela ausência congênita total de um ou mais membros do corpo, o obrigou a fazer muitas atividades de forma diferente.
Ele curte jogos eletrônicos como Brawl Stars, Clash of Clans e Call of Duty Mobile. Participa de campeonatos de xadrez, faz as refeições, escreve e joga cubo mágico. Aprendeu a resolver seis cubos e quebra-cabeças tridimensionais usados em campeonatos oficiais, como 2x2x2, 3x3x3, 4x4x4, pyraminx, skewb, square-1 e está aprendendo os algoritmos do 5x5x5.
Sua habilidade com os pés lhe garantiram uma medalha de bronze e duas de prata em campeonatos oficiais realizados pela Associação Mundial de Cubo Mágico (WCA). Em 2019, conquistou dois títulos de vice-campeão brasileiro, um de cubo mágico na modalidade com os pés e outro no xadrez na categoria sub-12. Em 2020, participou do Campeonato de Cubo Mágico on Line, ficou em primeiro lugar na categoria com os pés e também para pessoas com deficiência resolvendo o cubo mágico com uma média de trinta e seis segundos e trinta e dois centésimos.
A professora Eluana Turazzi, do Colégio Meta, onde ele estuda, foi quem o ensinou e motivou levando em campeonatos. Gustavo participa também dos campeonatos em equipe realizados na região de Criciúma, no sul de Santa Catarina.
O canal Gustavo Galvani no You Tube apresenta tutoriais ensinando a resolver alguns tipos de cubo. Também faz uma campanha para que a Associação Mundial de Cubo Mágico revogue a decisão de banir a modalidade em que ele se destaca, pois isto inviabiliza seu sonho de ser campeão mundial.


Para assistir clique AQUI

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